O estilista Rafael Caetano apresentou a coleção Verão 24 nas passarelas da SPFW no dia 9 de novembro, às 18h30, no Komplexo Tempo, no bairro da Mooca, um dos espaços destinados ao evento na capital paulista.

Para este trabalho, o segundo desfile da marca para a mais importante semana da moda nacional, a coleção recebeu o nome de Coração Selvagem, inspirado no álbum de mesmo nome do cantor Belchior, lançado em 1976.

Antonio Carlos Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior, nasceu em Sobral, no Ceará e morreu em abril de 2017, aos 70 anos, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Ele é considerado um dos maiores compositores e intérpretes da música brasileira, com diversos sucessos e obras que embalaram gerações.

“Tudo começou com uma ilustração que ganhei de presente do ilustrador Rafael Garcia, que costumava desenhar vários personagens famosos. Fui surpreendido pelo artista em relação ao trabalho do Belchior, que eu ainda não conhecia, mas já ouvia falar desde criança pela minha avó, que sempre costumava dizer que meu avô, já falecido, era a cara dele por conta do cabelo e bigode”, explica o estilista.

Caetano conta que, mesmo depois de ganhar a ilustração, ainda conhecia pouco sobre o trabalho de Belchior, mas foi durante o processo de uma pesquisa de coleção, com outro tema em mente, que teve a oportunidade de se aprofundar. “Eu tinha pensado em falar sobre a história de vida de Cassandro, um competidor mexicano, de luta livre, que rompeu as barreiras da heteronormatividade e de gênero, por conta da sua forma de vestir e seu comportamento.

No cinema, o ator Gael Garcia Bernal, um dos atores que mais aprecio o trabalho, atuou em “La Mala Educación”, de Pedro Almodóvar. Este foi o primeiro filme que assisti do diretor, que também me encantou e me deu várias ideias para criar. Há pouco tempo, assisti Cassandro, coincidentemente, também interpretado pelo Bernal e continuo encantado com a história do lutador. Mas, agora, que estou vivendo em Madrid, gostaria de falar de um personagem brasileiro”.

Durante o processo de pesquisa para a coleção atual, Caetano recebeu de um amigo a obra de Belchior. “Foi no aplicativo de mensagens e quando abri a primeira música, que também dá nome ao álbum, me tocou profundamente. Os acordes iniciais eram feitos no saxofone, inclusive, um instrumento  que eu  também toco.  Quando  ouvi o trecho: `Não  quero  o  que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja. Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo. Tenho pressa de viver` – fiquei impactado”.

O estilista explica que pela primeira vez  conseguiu traduzir um texto, sem  tantas referências visuais, em uma coleção. No caso, a letra da música inspirou este trabalho e me ajudou a contextualizar as minhas ideias. “Ao longo do processo, fiquei escutando a canção pelo menos duas vezes ao dia e relia a letra constantemente”.

Assim como no álbum, Caetano conta que a silhueta das peças foram pensadas na década de 70, e que isso é possível perceber nas calças justas e levemente  abertas na barra e também no formato das robes du soir, muito utilizados pelos homens nessa época. “Temos a estampa  de gravataria que aparece em um bloco de peças, listras se somam aos quadriculados que sempre são trabalhadas nas coleções da marca, dessa vez nas cores musgo, oliva, pêssego, aveia, areia, cáqui, preto & off-white. As estampas são todas gráficas”.

A coleção tem como objetivo unir o streetwear com a alfaiataria para criar uma coleção contemporânea, com grande parte dos tecidos das famílias compostas de crepes, suedes, tweeds, cetins, sarjas e bases de tricoline e cambraia de algodão.

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