Para o especialista em moda Daylon Martineli, a vestimenta não deve rotular, mas abraçar a individualidade de uma comunidade tão plural
O mundo ainda está aprendendo a incluir uma comunidade que sempre esteve presente na sociedade: a LGBTQIA+. Seja no mercado de trabalho, nos ambientes acadêmicos ou até mesmo no universo da moda, diariamente, pessoas pertencentes a esse grupo precisam desconstruir uma imagem criada para estereotipar seus gostos, personalidades e preferências.
No quesito moda, por séculos, homens trans, gays, entre outros, precisaram se camuflar socialmente por meio do que vestiam. Na década de 70, por exemplo, não era incomum os gays se vestirem de forma mais viril para esconder quem realmente eram devido ao preconceito enraizado na sociedade, explica o Daylon Martineli, ator, produtor cultural, influenciador digital e especialista em moda.
“Em simultâneo, esse período também foi marcado pelo surgimento de uma moda gay mais extravagante, mais colorida — em que o estilo de cada um fazia um passeio entre o masculino e o feminino, fosse pelas roupas ou pelos acessórios utilizados”, aponto Daylon, que ressalta, em contraponto, que o estilo minimalista se tornou um dos mais aderidos pela comunidade.
Em seus perfis nas redes sociais, o especialista tem se destacado na moda LGBTQIA+. “Sempre recebo mensagens dos meus seguidores elogiando o meu estilo e pedindo dicas para que eles também se destaquem, então posso dizer que a forma que me visto influencia muitas pessoas e atribuo isso principalmente ao meu gosto por uma moda mais minimalista, um estilo bem particular no mundo LGBTQIA+”, elucida o influenciador.
Segundo Daylon, seu estilo exemplifica uma tendência da moda gay dos tempos modernos, mas faz um contraponto com o modo de se vestir da comunidade gay em um período não tão distante. “Na década de 80, o estilo das pessoas LGBTQIA+ transformou mais uma vez, sendo uma das grandes referências daquele período o cantor Cazuza, eterno poeta do rock. Ele tinha um jeito muito particular de se vestir, um estilo mais casual e longe da extravagância da década anterior, e talvez o que podemos chamar do que eu considero hoje uma moda minimalista. Embora ele também utilizasse alguns acessórios, ele tinha um estilo que se afastava de alguns dos estereótipos da moda gay, sem problematizar os estilos diferentes”, diz o especialista em moda.
Segundo ele, a moda masculina gay passou por significativa transformação nas últimas décadas, mas aspectos característicos se mantiveram: além da preocupação com o se vestir bem, no universo onde transita, o estilo é utilizado como um importante reflexo da personalidade. “Comigo nunca foi diferente. Mesmo como ator, sempre gostei de me expressar pouco e dizer muito em minhas atuações no palco. No estilo de me vestir, sempre foi assim. Com a utilização de poucos elementos visuais capazes de expressar a simplicidade de quem eu realmente sou”, exemplifica.
Para o influenciador, esse é o motivo do seu estilo se destacar nas mídias sociais. “A forma minimalista que me visto representa uma parte da comunidade LGBTQIA+ que busca um estilo moderno, casual e, em simultâneo, confortável, mas sem ofuscar o estilo mais colorido, de peças largas e mais chamativas, comum em outra parte da nossa comunidade. Isso prova que a comunidade atualmente é ampla, com espaço para vários estilos de se vestir e de representar as nossas personalidades. Estereotipar nossa vestimenta é apagar nossa diversidade”, defende