O IEMI – Inteligência de Mercado, apresentou na semana passada na sede da ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, os “Cenários da Indústria Têxtil e Confeccionista no Brasil” com dados de 2023 e 2024 e projeções para o ano que vem. Marcelo Prado, diretor do IEMI abordou a importância do setor têxtil e a necessidade do Governo reconhecer isso.

Sobre a produção e consumo global de confeccionados, nos anos 90 e 2000, houve uma migração da produção mundial para os países emergentes, em busca de: mão de obra abundante, baixos custos de produção, baixa regulação e incentivos à exportação. Porém, segundo Marcelo, temos mão de obra abundante, em várias regiões do país e, que podemos gerar melhores empregos com a industrialização.

O comércio internacional de têxteis e confeccionados teve uma queda de 3,2% nos últimos 5 anos. A produção migrou e o comércio acelerou. “O comércio se desenvolveu absurdamente mas o Brasil perdeu a mão para inserir nesse comércio”, comentou Marcelo.

Os maiores exportadores têxteis do mundo conseguiram avançar com outras estratégias, mesmo com dificuldades. Eles movimentaram 201 bilhões de dólares no ano passado. Entre os principais exportadores, o país fica em 31º lugar.

O Brasil tem tudo para crescer e exportar também. Segundo Marcelo, temos uma indústria criativa, inovadora e oportunidades para desenvolver o setor têxtil de uma maneira estratégica “e não como uma moeda de troca”.

A questão da sustentabilidade favorece o país que é o maior produtor de algodão mundial. Nos últimos cinco anos, vem crescendo a demanda por fibras naturais, o que é uma oportunidade para a cadeia produtiva do algodão.

Cadeia produtiva

Em relação aos números de produção e consumo no Brasil, o setor da indústria e confecção faturou 204 bilhões de reais em 2023, em 25,8 mil unidades produtivas, 1,3 milhões de pessoas ocupadas, 757,4 mil empregos diretos, 9,7 mil empregos na indústria de transformação.

Esse ano, provavelmente vai fechar no positivo, apesar do setor de empregos não ter retomado os mesmos números que antes da pandemia.

Investimentos

O setor investiu bastante em manufaturas têxteis com aumento de 12,7% em 2023, enquanto as confecções registraram alta de 37,8%.

A balança comercial subiu em 2023 favorecendo as importações. “Somos competitivos lá fora”, diz Marcelo. Mas é preciso ter uma evolução na produção de fios, tecidos e não tecidos que está abaixo ainda comparado ao pré-pandemia. A volta dos asiáticos roubou um pouco dessa fatia. No ano passado foram produzidas, 66,2 bilhões de manufaturas têxteis.

“O Brasil é grande e tem ambientes de produção diferentes dentro do país. Conseguem competir entre eles, mas lá fora não conseguem competir. Antigamente exportávamos 45% da produção nacional, hoje são 5,67%”, diz Marcelo.

Indústria de Vestuário

Foram produzidos 157,7 bilhões de peças em 2023. Entre 2019 e 2023 a produção, em peças, teve uma queda -14,9%. E em valores nominais (sem descontar a inflação do período), uma alta de 3,6%.

Em 2023, as exportações registraram alta de 25% em relação ao início do período de 2019 e as importações cresceram 12,4%, com 6% de crescimento da importação de consumo. A queda no consumo é menor, mas mesmo assim elevada.

Entre 2019 e 2023, a disponibilidade de produtos do vestuário para o consumo interno recuou 8,7% em peças, enquanto que em valores nominais, registrou uma alta de 5,6%.

Em relação à Produção de Fios, Tecidos e Não Tecidos, em 2023, a produção de manufaturas têxteis registrou queda de 4,3% em número de peças, segundo os dados do painel anual do IEMI. Em comparação ao período pré-pandemia, a queda é de 4,6%. Em 2024, as estimativas para a produção apontam alta de 4,8% em número de peças. “Foram 5 anos trabalhando para ficar no mesmo lugar”, devido à pandemia. “O único caminho para recuperar os números pré-pandemia é a inflação baixa”, afirma Marcelo.

O setor de vestuário registrou uma queda de 1,7% em números de peças. Em 2024, as estimativas são de um aumento de 2,6% em peças. “Neste ano, estamos num caminho de normalização e não de crescimento”, afirma Marcelo. Em comparação à 2019 aconteceu uma queda de 14,9%.

Esse cenário se deu por conta do endividamento das famílias, alta inflação e alta taxa de desemprego, além das redes varejistas terem sofrido perdas com a pandemia com suas lojas fechadas.

Projeção para tecidos e vestuários

Para 2024, há uma projeção de 4,8% de crescimento em tecidos. E para 2025, a perspectiva é mais fraca por causa dos juros e inflação; Estima-se um aumento de 1,6% na produção de vestuário para 2025. O ritmo de crescimento para importação é maior.

Fatores para o crescimento em 2024:

-Redução da inflação;

-Redução dos juros (que já voltou a crescer);

-Redução no endividamento das famílias;

-Melhora do emprego e das rendas das famílias.

O que esperar para 2025:

-Inflação, dólar e juros mais elevados;

-Desaceleração do consumo;

-Queda das importações de vestuário;

-Espaço para pequena recuperação na participação da produção local no consumo interno de vestuário.

Desafios e Oportunidades

Mudanças no comportamento, no consumo e na gestão, trazem oportunidades e desafios às empresas de moda como a Inclusão Digital, principalmente para as pessoas mais velhas, os gestores das empresas, e-commerce, que era um vilão para o varejo físico, agora se une ao omnichannel com vendas também no Instagram, Tik Tok, entre outros. O desafio do e-commerce é gerar fluxo para as lojas físicas, logística reversa, start ups com novas tecnologias que estão reinventando a forma de se produzir, de comercializar e de se comunicar.

O agronegócio que vem crescendo, a informalização no vestir com conforto, hábito adquirido na pandemia, expansão da demanda nas grandes cidades do interior e a sustentabilidade que não é aumento de custo para a empresa, mas economia, uma vantagem competitiva. “Não é fácil, é desafiador porque envolve toda a cadeia produtiva”, comenta Marcelo.a

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